quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"Há alturas na vida em que um homem tem que ser forte!"


Lembro-me como se fosse ontem de ainda petiz caminhar pela rua com o meu pai, ele no passeio e eu aos saltos na faixa de rodagem como era comum naqueles tempos, quando este me chama ao pé de si.
- "Anda cá ó morcão (como me chamava carinhosamente), tenho uma coisa para te ensinar!"
(ás vezes também me chamava Zé, o que por si só era muito estranho dado o meu nome começar por P. Talvez me confundisse com o meu irmão, diz-se que somos parecidos).

Quando me aproximei agarrou-me com firmeza no braço e disse-me:
"Sabes morcão, há alturas na vida em que um homem tem que ser forte!
Tem que se superar, tem que aguentar para além dos seus próprios limites. Haverá alturas que pensarás em desistir, mas deves persistir, deverás procurar dentro de ti a força que necessitas para seguir em frente"
Olhei para ele, semi-cerrei o olho esquerdo e lentamente acenei com a cabeça em sinal de concordância com o que acabara de ouvir, não deixando que percebesse que não tinha entendido patavina.
"Atenta no que te digo rapaz, só assim avanças na vida". E ao proferir estas palavras deu-me uma palmada na nuca que me fez avançar uns bons cinco metros.

Mantive-me nesse estado de ignorânca até hoje, trinta anos depois, ao chegar a casa ao fim do dia depois de ter ido buscar a Rita e ter percebido que não havia um único lugar em toda a rua para estacionar.
A trezentos metros de casa, com a Rita e os seus generosos dez quilos, o "ovo", a mala com o portátil, cadernos, canetas e meia dúzia de ferramentas, a minha sacola de pertences (quem conhece sabe que é coisa pesada), a sacola com os pertences da Ritinha, um saco com umas coisas que tinha comprado para ela e uns quantos papéis soltos assim a modos... De papéis soltos, quando pensei para comigo - "Caramba, há alturas na vida em que um homem tem que ser forte!"

Será que era disto que falava???

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